terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Apresentação

O meu nome é Almerindo Raspelho e sou o Director da Escola de Malandragem.
Esta não é uma escola igual às outras. Nesta, os alunos quando terminam os cursos sabem fazer pelo menos uma coisa.
Pelos corredores e salas deste estabelecimento de ensino só circulam alunos com capacidades acima da média para a malandrice. Por isso não é qualquer um que tem o privilégio de ser admitido. É preciso provar que tem condições para frequentar os nossos cursos.
Ensinamos Inglês Técnico que, como é sabido, é fundamental para a boa prática da malandrice, na medida em que não há fronteiras que a contenha. A comunicação é um factor essencial para um bom malandro. Os exames são muito rigorosos. Tão rigorosos que permitimos que os alunos possam fazê-los em casa, enviando-os posteriormente por correspondência. Porquê? Porque é no sossego do lar que o aluno consegue concentrar-se para responder com acerto e sabedoria às questões colocadas.
Com o canudo debaixo do braço, os nossos alunos partem à descoberta deste admirável país à beira mar plantado. Alguns emigram ou ausentam-se do país quando esgotam as malandrices todas que aprenderam na escola. Sim, nós temos no nosso plano curricular uma cadeira que é Técnicas de Fuga para a América Latina que tem sido de grande utilidade.
Grande parte dos nossos formandos vai para a política. Outra vai para os clubes de futebol. Alguns dedicam-se aos negócios. Uma parte à advocacia. Outros à medicina para gordos. Também ao jornalismo. Nas administrações dos baços e muito especialmente dos seguros. Nos sindicatos temos um número muito razoável. E, como não podia deixar de ser, na docência. Alguém tem de formar os novos alunos. E, como não podia deixar de ser, temos também alguns dos nossos licenciados nessa nobre profissão de taxista no Aeroporto de Lisboa.
Nos mais variados sectores da vida económica e social do nosso país, há ex-alunos nossos que terminaram a sua formação com esmero e estão a exercer com grande sucesso.
Os nossos alunos são um grande motivo de orgulho. Somos a única escola que não tem nenhum dos seus diplomados no desemprego. Bem sei que neste país há condições favoráveis para a malandrice. Também sei que há muitos exemplos a seguir e por isso a vida fica facilitada. Ainda assim, tem havido cada vez mais concorrência.
Apesar dos nossos continuados avisos, o Ministério da Educação tem revelado alguma dificuldade em conter a proliferação de escolas que não estão devidamente habilitadas para este tipo de ensino. Bem sei que depois do encerramento da Universidade Independente a formação académica nesta área do conhecimento ficou algo debilitada. Mas temos esperança que o governo esteja atento a isto e seja capaz de tomar medidas no sentido de mantermos o nível de formação bem alto, com os resultados que são conhecidos. Compreenderão que não sendo o governo, mais ninguém o fará com semelhante capacidade.
Pois bem, espero que tenham entendido os propósitos da nossa escola. Mas à frente teremos a oportunidade de mostrar exemplos práticos do nosso trabalho. Podem esperar deste vosso Director a frontalidade necessária para distinguir a boa da má malandrice.
Bons Sucessos para os novos alunos. Podem contar com a dedicação da Direcção da Escola.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial